- Alma danada
Segredo às ondas do mar
E ouço o que ele me diz
Foi triste fado tentar
Ser feliz
Vivi em prosa um poema
Que o meu coração mendigou
Ao poeta que, sem pena,
- Amores imperfeitos
Sombras que percorrem
O meu fado
São nuvens de incerteza
No cinzento do céu
São ondas deste mar
Que foi tingido pela dor
Levando um sonho que
Já não é meu
- As pequenas gavetas do amor
Se for preciso, irei buscar um sol para falar de nós:
Ao ponto mais longínquo do verso mais remoto que te fiz
Devagar, meu amor, se for preciso, cobrirei este chão
De estrelas mais brilhantes que a mais constelação,
Para que as mãos depois sejam tão brandas como as desta tarde
Na memória mais funda guardarei em pequenas gavetas
Palavras e olhares, tão minúscullos centros de cheiros e sabores
- Con Toda Palabra
Letra e Musica: Lhasa de Sela
Realização: Aurélio Vasques
Gravado no Teatro das Figuras na "Noite do Sofá" 3 de Maio 2014
CON TODA PALABRA
Con toda palabra
Con toda sonrisa
- Deixei a janela entreaberta
Deixei a janela entreaberta
Para deixar entrar a saudade
Tenho o coração em alerta
A solta a minha fragilidade
Entram notas de jasmim
Raios de lua e de prata
Dizem que o amor por vezes mata
- Ela agora
Não menos que Helena bela
Ela senta-se á janela
Porém não á janela mas á janela
Do computador
Que abrem portas que são redes
Páginas que são sítios
Avenidas que são ermos
Que agora percorremos
- Estes dias sem ti
Sem ti, sem ti, aqui perto de mim
Sem ti, sem ti não consigo viver
Sem ti, sem ti eu nunca me senti assim, tão só
Sem ti, sem ti estes dias sem ti
assim, assim não servem para nada
Olhar para mim não posso mais viver
Viver assim longe de ti
- Fado mambo
Um fado ouvia-se ao longe
Na tarde amolecida
E uma voz maior tornava
Maiores as nossas vidas
A voz enchia as avenidas
Todas as ruas e vielas
Todos os cantos da cidade
- Gato que brincas na rua
Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.
És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
- Meu vestido vermelho
O meu vestido vermelho
Nunca está fora de moda
Os anos passam por ele
O meu vestido nunca me incomoda
O meu vestido vermelho
O meu vestido vermelho
Não tem etiqueta nem marca
- O tempo subitamente solto
O tempo, subitamente solto
Pelas ruas e pelos dias
Como a onda
De uma tempestade
A arrastar o mundo,
Mostra-me o quanto te amei
Antes de te conhecer
- Sonho lindo
Contei-te um sonho lindo
Que acabava de ter
Embalei-o pequenino
Para não deixar fugir
Sonhei que me levavas
Num barquinho pelo mar
Subindo as ondas mansas
- Tempo suspenso
E sempre assim quando não estás
Ando à deriva a flutuar
E sempre assim quando não estás
Brinco com o tempo suspenso no ar
Contemplo a noite pela janela
Vejo a lua no quarto minguante
Felizmente daqui oiço o mar
- Toada dos aguaceiros
Caem aguaceiros
Deste céu pesado
Que são mensageiros
Dum vento salgado
Oh meu bem adeus
Que eu estou de partida
Levo a despedida
Nestes olhos meus
- Urgentemente
É urgente destruir certas palavras
Ódio, solidão e crueldade,
Alguns lamentos,
Muitas espadas.
É urgente o Amor,
É urgente um barco no mar.
É urgente o Amor,
- Ziguezague
Sei lá
Nunca sei se vais embora
Ou se chegas a tal hora
Vá alguém adivinhar
Rapaz
Mais um dia à tua espera
Quase esqueço de quem era